Macrominerais

Macrominerais na nutrição animal: funções, variabilidade e seu impacto real na fabricação de rações

29 de novembro de 2025

9 minutos de leitura

Na formulação de rações modernas, costumamos prestar muita atenção à energia, às proteínas ou aos aminoácidos sintéticos. No entanto, o funcionamento fisiológico do animal depende criticamente de outro grupo de nutrientes que, apesar de não fornecerem energia, são absolutamente essenciais para que o metabolismo funcione com precisão: os macrominerais. A sua influência não se limita à estrutura óssea ou à manutenção do equilíbrio ácido-base; eles também determinam a eficiência com que o animal utiliza os demais nutrientes e, consequentemente, o seu rendimento produtivo.

Entre os macrominerais, quatro destacam-se pelo seu impacto direto no crescimento, saúde e eficiência: cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg) e sódio (Na). A sua importância nutricional tem sido demonstrada há décadas e autores como Ammerman, Baker, Henry ou Hall têm insistido que não basta cobrir as necessidades teóricas. A qualidade das fontes minerais, a sua solubilidade, pureza, granulometria e estabilidade determinam a sua verdadeira disponibilidade e, portanto, a resposta do animal.

Além disso, numa fábrica de rações moderna, os macrominerais não devem ser considerados apenas do ponto de vista nutricional. O seu comportamento físico — fluidez, higroscopicidade, densidade, granulometria — afeta diretamente processos industriais como dosagem, mistura, transporte interno ou descarga em funis. Compreender como cada mineral se comporta permite melhorar a fiabilidade do processo e a consistência entre lotes.

Este artigo oferece uma visão técnica e atualizada sobre o papel desses macrominerais, integrando os aspectos fisiológicos e industriais, e baseando-se em referências clássicas da nutrição e na experiência prática das fábricas de rações.


O cálcio: muito mais do que um componente estrutural

O cálcio é talvez o macromineral mais associado à estrutura óssea, mas a sua função é muito mais ampla. Intervém na contração muscular, na transmissão nervosa, na coagulação sanguínea e na ativação de numerosas enzimas. A insuficiência ou o desequilíbrio no seu aporte afeta diretamente o desenvolvimento do esqueleto, o bem-estar animal e a eficiência produtiva.

Fontes de cálcio e variabilidade industrial

As fontes de cálcio mais comuns na alimentação animal são:

  • Carbonato de cálcio
  • Fosfatos de cálcio (dicálcico, monodicálcico, monocálcico)
  • Farinha animal (cada vez menos utilizadas)

O carbonato de cálcio é a fonte predominante devido à sua disponibilidade e custo, mas a sua qualidade é surpreendentemente variável. Roland e Bryant já demonstraram que dois carbonatos semelhantes na aparência podem apresentar solubilidades muito diferentes, dependendo da sua pureza mineral, granulometria e tratamento térmico.

Do ponto de vista industrial, a granulometria do carbonato de cálcio afeta diretamente o seu comportamento nas tremonhas e nos sistemas de dosagem. Partículas muito finas tendem a gerar pó, aglomeração e pontes nas tremonhas; partículas grossas podem separar-se do resto dos ingredientes durante o transporte interno. O design da fábrica — especialmente a geometria das tremonhas e a capacidade do misturador — influencia significativamente o manuseamento deste mineral.

Transportadores de corrente numa fábrica de rações.
Transportadores de corrente numa fábrica de rações.

O papel do tamanho das partículas

O tamanho das partículas é fundamental tanto para a absorção fisiológica quanto para o comportamento industrial. Em aves, o carbonato de cálcio grosso é retido por mais tempo no moela, proporcionando um fornecimento sustentado que melhora a qualidade da casca. Em suínos, as partículas finas são mais solúveis, mas podem interagir com o fósforo e reduzir a eficácia da fitase se o pH estomacal for inadequado.

Interações do cálcio com outros nutrientes

O cálcio interage com fitatos, fosfatos e aminoácidos. Um excesso pode diminuir a disponibilidade de fósforo e limitar a eficácia das fitases. Além disso, níveis muito elevados alteram a digestibilidade dos aminoácidos essenciais, aumentam a excreção fecal e pioram a conversão alimentar. Do ponto de vista ambiental, um excesso de cálcio combinado com fósforo não absorvido aumenta as perdas minerais.


O fósforo: o mineral mais caro e variável

O fósforo participa em processos fundamentais: formação óssea, metabolismo energético (ATP), fosforilação, transporte de nutrientes e regulação celular. É um dos minerais mais caros da dieta e também um dos mais afetados pela variabilidade entre lotes.

Variabilidade nas fontes de fósforo

As fontes mais comuns são:

  • Fitatos de cereais (baixa disponibilidade)
  • Fosfatos inorgânicos (DCP, MDCP, MCP)
  • Farinha animal
  • Subprodutos vegetais

Os trabalhos de Hall (1997) e do CVB (1997) demonstraram que a digestibilidade do fósforo pode variar mais de 20%, mesmo dentro do mesmo tipo de fosfato. Isso afeta diretamente a formulação e obriga a trabalhar com margens de segurança ou a caracterizar analiticamente cada fornecimento.

Fitase: chaves para a sua eficácia

A incorporação de fitases revolucionou a nutrição mineral, permitindo liberar o fósforo ligado aos fitatos e reduzir o uso de fosfatos inorgânicos. No entanto, a sua eficácia depende de parâmetros como:

  • pH do trato gastrointestinal
  • nível de cálcio
  • tipo de fitato presente nos alimentos
  • tempo de retenção

Do ponto de vista industrial, a ação real da fitase também depende da homogeneidade com que é distribuída na ração. Uma mistura deficiente, especialmente em instalações com misturadores de grande capacidade, pode reduzir significativamente a sua eficácia.


O magnésio: um mineral essencial

Embora menos mencionado do que o cálcio ou o fósforo, o magnésio participa em mais de 300 reações enzimáticas. É essencial para o metabolismo energético, a estabilidade neuromuscular, o relaxamento muscular e a integridade do esqueleto.

Fontes de magnésio e variabilidade

As fontes mais utilizadas são:

  • Óxido de magnésio
  • Carbonato de magnésio
  • Sulfato de magnésio

O óxido de magnésio destaca-se pela sua concentração, mas a sua solubilidade real varia enormemente de acordo com a origem, o processo de calcinação e a temperatura de fabrico. Henry (1995) salientou que dois óxidos com conteúdo químico semelhante podem apresentar uma disponibilidade prática radicalmente diferente.

Em fábricas de rações, os óxidos de baixa solubilidade podem comportar-se como partículas muito densas que se separam facilmente durante a mistura, especialmente em instalações com longos percursos de transporte ou múltiplos pontos de queda.

Magnésio em situações de stress

O magnésio modula a excitabilidade muscular. Em situações de stress térmico ou metabólico, pequenas deficiências podem provocar tremores musculares, pior conversão, menor consumo e redução do crescimento. Em explorações agrícolas com climas quentes, o seu papel assume especial importância.


Sódio: equilíbrio hídrico e transporte ativo

O sódio participa na transmissão nervosa, na regulação ácido-base, no equilíbrio osmótico e no transporte ativo de nutrientes. O seu aporte influencia diretamente a ingestão de água e a fisiologia intestinal.

Fontes de sódio

  • Cloreto de sódio (sal comum)
  • Bicarbonato de sódio

O sal fornece sódio e cloro; o bicarbonato introduz um efeito tampão, fundamental em dietas acidogénicas ou em condições de calor elevado. Baker (1995) destacou que não é o sódio isolado, mas sim o equilíbrio eletrolítico (Na + K – Cl) que determina muitos processos metabólicos.


A qualidade industrial dos minerais

A qualidade real dos minerais não depende apenas da sua composição química. O seu comportamento dentro da fábrica influencia a fluidez, a dosagem, a velocidade de queda, a mistura e a homogeneidade. Os aspetos mais críticos são:

  • Granulometria
  • Densidade aparente
  • Higroscopicidade
  • Estabilidade físico-química
  • Compatibilidade com vitaminas e enzimas

Minerais muito finos geram pó, aglomeração e risco de retenção nas paredes das tremonhas. Minerais muito densos tendem a segregar-se durante o transporte ou a mistura. Minerais higroscópicos podem absorver humidade nos silos, compactar-se e formar crostas que dificultam a descarga.

Para uma fábrica moderna equipada com sistemas automáticos de dosagem, uma má fluidez pode resultar em erros de pesagem, quedas irregulares e variabilidade entre lotes. O design das tremonhas, os ângulos de deslizamento, o tipo de comportas e o misturador assumem um papel fundamental.

Balança de dosagem de macro-ingredientes numa fábrica de rações
Balança de dosagem de macroingredientes numa fábrica de rações em Espanha.

A granulometria determina tanto a solubilidade do mineral quanto o seu comportamento em funis, dosadores e misturadores. O gráfico a seguir resume essa relação e explica por que escolher o tamanho adequado das partículas é essencial na nutrição e no processo industrial.

Tipo de partícula Solubilidade Estabilidade na mistura
Partícula fina Alta Média
Partícula média Ótimo Ótimo
Partícula grossa Baixa Variável*

* A estabilidade depende do tipo de misturador, do tempo de mistura e do transporte posterior dentro da fábrica.


Macrominerais e mistura industrial

A mistura é um dos processos mais determinantes para a uniformidade final da ração. Em fábricas de grande capacidade, onde as misturadores devem trabalhar a ritmos elevados, os minerais com granulometrias muito diferentes geram padrões de segregação. Isso agrava-se durante o transporte posterior em parafusos sem-fim ou elevadores, onde as frações mais densas tendem a migrar.

Hélices de um misturador de fitas no local de produção da Rosal
Hélices de um misturador de fitas Rosal.

Uma pré-mistura de qualidade permite introduzir todos esses minerais na forma de um único ingrediente homogéneo, reduzindo a variabilidade entre lotes e melhorando o coeficiente de variação da mistura. As fábricas que operam com sistemas automatizados se beneficiam enormemente dessa uniformidade, pois diminuem os erros de dosagem e reduzem a necessidade de refazer lotes.


Macrominerais em pré-misturas: vantagens nutricionais e tecnológicas

A literatura clássica (Henry, 1995; Ammerman et al., 1995) destaca que os minerais incluídos em pré-misturas oferecem benefícios tanto do ponto de vista nutricional como tecnológico:

  • Melhor homogeneidade mesmo com baixas inclusões
  • Menor risco de degradação de vitaminas sensíveis
  • Redução de poeira e aglomeração
  • Melhor fluidez na dosagem
  • Redução de erros humanos

Do ponto de vista do processo, uma pré-mistura bem fabricada comporta-se como um ingrediente estável e fácil de manusear. Isso facilita a dosagem a partir da tremonha de macroingredientes, reduz problemas na balança e melhora a rastreabilidade do lote.

Balança de dosagem de microingredientes numa fábrica de rações
Depósitos de microingredientes com dosagem por peso, utilizados para garantir precisão na incorporação de pré-misturas e aditivos de baixa inclusão.

Conclusão: o papel indispensável dos macrominerais

O cálcio, o fósforo, o magnésio e o sódio são pilares fundamentais da nutrição animal. As suas funções abrangem desde o metabolismo energético e a transmissão neuromuscular até à integridade esquelética e à regulação ácido-base. Mas a sua importância não se limita à fisiologia. Numa fábrica de rações moderna, os minerais são materiais com comportamentos físicos próprios que podem facilitar ou dificultar o processo industrial.

A qualidade real dos minerais —solubilidade, granulometria, densidade, compatibilidade— afeta diretamente a dosagem, a mistura e a homogeneidade. Compreender esses fatores permite formular com maior precisão, reduzir custos, otimizar a eficiência das máquinas e garantir uma produção estável.

Os trabalhos de Ammerman, Baker, Henry, Hall e CVB continuam a ser referência para compreender a complexidade destes minerais. Integrar este conhecimento na engenharia e na conceção de fábricas de rações permite obter processos mais robustos, produtos mais homogéneos e uma nutrição mais ajustada às necessidades reais do animal.


Referências

  • Ammerman, C.B., Baker, D.H., & Lewis, A.J. (1995). Biodisponibilidade de nutrientes para animais: aminoácidos, minerais e vitaminas. Academic Press.
  • Baker, D. (1995). Necessidades e respostas nutricionais. Em: Biodisponibilidade de nutrientes para animais. Academic Press.
  • CVB (1997). Relatório de documentação 27: Digestibilidade e disponibilidade do fósforo em ingredientes alimentares. Centraal Veevoederbureau, Países Baixos.
  • Hall, L.E. (1997). Variação na digestibilidade do fósforo dos ingredientes dos alimentos para animais. Revista de Investigação Aplicada em Avicultura.
  • Henry, P.R. (1995). Magnésio e biodisponibilidade de minerais-traço. Em: Biodisponibilidade de nutrientes para animais. Academic Press.
  • Roland, D.A., & Bryant, M.M. (1994). Tamanho das partículas e utilização do cálcio em galinhas poedeiras. Ciência Avícola.

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